Por: Anderson Santiago
Foto: Alisson Demetrio
Quem acompanha a cena de música brasileira de perto certamente nunca ouviu falar tanto de bass music. Não que o estilo seja novo por aqui – o bass sempre frequentou muito as nossas pistas (começando lá atrás com o drum`n`bass e passando mais recentemente por vertentes que estão sob o mesmo guarda-chuva, como o dubstep e o trap). Mas ele tem derrubado algumas barreiras novamente ao alçar no mercado internacional uma nova geração de artistas, como a dupla moderninha Tropikillaz, e também ao se incorporar ao techno e ao house de DJs como Alok e Illusionize, sob a polêmica alcunha de Brazilian bass.
O DJ Alok começou a usar o termo “Brazilian Bass” ainda no começo deste ano. O nome virou praticamente uma marca sua, e o produtor passou inclusive a divulgá-lo no exterior. Afinal, o que tanto é esse Brazilian Bass? De acordo com o próprio Alok, o apelido surgiu diante da dificuldade que todos têm para definir o seu som. “Sempre gostei de trabalhar com um bass mais forte. Antes eu era rotulado de várias formas, como um DJ de house, deep house e techno, por exemplo. Eram termos muito amplos e meu som sempre teve um diferencial diante dessas vertentes. Percebi, então, que era melhor arrumar um novo termo.”
Esse apelido, portanto, começou a representar não apenas a música de Alok, mas também o trabalho de novos artistas que estavam estourando com o mesmo tipo de som, como Illusionize e Liu, por exemplo, outros artistas que despontavam seguindo a mesma linha sonora.
O que transforma o bass tradicional em “Brazilian“, segundo Alok, é primeiramente a estrutura. “O Brazilian bass tem batidas 4×4, enquanto no bass convencional elas são todas quebradas, como no trap e no dubstep. Mas o elemento principal de ambos será sempre o grave”, diz. O “bass brasileiro”, de acordo com essa galera, ficou tão famoso que ganhou até palco no Tomorrowland Brasil, em abril deste ano, e festa própria agora em julho. Chamado de “Alok Presents Brazilian Bass“, o stage teve a presença do astro, claro, além de nomes como o próprio Liu. “Foi uma das experiências mais fortes da minha vida! Há um ano eu estava no mesmo palco do festival como fã. Ter tocado em 2016, inclusive com Alok, foi algo muito forte que vai ficar marcado para sempre na minha alma e no meu coração”, revelou.
Então o Brazilian Bass é um estilo?
Não é bem assim! Como de costume, a fama do Brazilian bass veio acompanhada de certa polêmica. Após ser alçado em todos os cantos do país, muita gente, especialmente os produtores do bass mais “tradiça”, passou a questionar se ele é, de fato, um novo estilo eletrônico e genuinamente nacional. A turma mais old school questiona a originalidade dessa nova cena e não apóia o uso da expressão “bass”. O produtor Omulu foi um dos primeiros a bradar contra Alok e seus seguidores. No Facebook, ele postou: “Fiquei sabendo que estão querendo roubar o termo BRAZILIAN BASS para mais um tipo de house universitário que de Brasil e de Bass não tem nada kkkkkk“.
O DJ e produtor Zegon, que também é metade da dupla Tropikillaz, também não é muito simpático ao Brazilian bass. “Respeito muito essa nova geração e o trabalho que eles fazem, mas não considero o som deles nem Brazilian (porque não tem nada de brasileiro) e nem bass, já que não há o grave necessário para se rotular como tal. Talvez seja algum derivado de deep house 4×4, nada que nunca tenha sido feito de forma muito melhor antes, com o g house e o future house”. Segundo a DJ Luísa Viscardi, não há por que considerar essa nova turma como criadores de um novo gênero. “Volta e meia aparecem novos gêneros e sub-gêneros para os estilos musicais, lembro de milhões que já surgiram por aí, sempre gerando polêmicas. Pouco importa o nome que você dá, a música tem que soar bem aos ouvidos e ser bem produzida. Não tem essa de ‘bass convencional’ e ‘Brazilian bass’. Bass é bass. Bass é trap, dubstep, drum and bass, footwork e por aí vai”.
Em 2013, Zegon chegou a ter seu estilo atrelado a um rótulo de “Brazilian bass”, mas o apelido não ganhou repercussão à época. Alok, diante disso, postou recentemente um vídeo em seu Facebook no qual pede o “álvará” a Zegon para usar o termo. “Independente de a música do Alok ser original ou não, a partir do momento em que ele tem humildade para admitir que ele não é o ‘dono’ do Brazilian bass, eu acho digna a atitude. O Alok e os que se intitulam expoentes do Brazilian bass acabam levando o público deles a novos artistas, o que é totalmente positivo. O Brazilian bass é toda uma cultura, uma cena bem maior e não um pequeno nicho. Sabendo respeitar as diferenças de estilos, há espaço para todos”, disse Zegon ao ser perguntado sobre o vídeo.
Mesmo levantando a bandeira da paz, Zegon permanece arredio à sonoridade de Alok: “Continuo achando que bass house combina melhor com house music do que com batidas quebradas. Eles não foram felizes com a escolha do rótulo Brazilian bass, mas, sabendo admitir que não são ‘donos’, são bem-vindos e podem somar, trazer progressos e abrir as portas para outros produtores e DJs da cena”.
Enquanto isso, Alok continua sua trajetória de levar suas batidas, sejam elas chamadas do que for, aos quatro cantos do mundo. “Acredito que a cena esteja passando por uma transformação e que essa é a hora ideal para nos destacarmos mais. Todo mundo tem seu espaço e a gente só foca em conquistar o nosso. O Brazilian bass é atualmente no que mais acredito”, conclui o DJ brasiliense.